Outro dia desses, a Ana Beatriz terminou o seu namoro. Influenciada pelas amigas, decidiu entrar na onda, curtir um pouco e arriscar. Estava solteira! Instalou o Tinder.
Primeiramente estabeleceu uma meta: Conhecer pelo menos duas pessoas e ver no que dava. Podia rolar, podia não rolar.
Começou buscando quem estava mais perto. Limite de 10 km e idade entre 18 e 25 anos parecia um bom começo.
Não deu certo. Só queriam curtição, ela disse. O papo sempre começava com “Oi, tudo bem?” e terminava com “na minha casa, na sua ou à luz da lua?”
Decidiu então aumentar a distância de busca. Ampliou para 30 km. Também aumentou a faixa etária. Agora de 18 a 35 anos. Os novinhos não estavam com nada. Talvez assim encontrasse alguém mais maduro e compromissado. Até conseguiu algumas combinações, mas no geral só gente que depois de algum tempo conversando acabava demonstrando que era safada demais e só queria sexo. Precisava encontrar algo melhor, com sexo, mas não assim, né?
Para conseguir atingir a primeira meta, então, resolveu colocar algumas fotos mais atraentes. Photoshopou bastante, e deu certo. Teve dois encontros, mas em um deles o cara falava demais, e no outro, não falava nada. O que falava demais era casado, o que falava pouco, ela não descobriu, ele não falava. Não quis continuar, bloqueou os dois e voltou para o Tinder. Precisava de algo melhor. Ia seguir a mesma fórmula. Investir no visual com mais fotos, mas sem ser vulgar.
50 km.
70 km.
O mundo parecia pequeno, mas muito trivial. Conheceu tanta gente, mas só gente chata, com muitos defeitos e aparentemente promíscuas. Viu que era possível ir cada vez mais longe. Mas precisava fazer algo mais.
Resolveu então mudar a descrição do perfil na tentativa de filtrar melhor seus candidatos. Estava cansada dos caras que mal conversavam e já pediam o Whatsapp para marcar encontros, já que não queria mais nada casual, ou queria, mas achava que não queria. Talvez quisesse. Era algo confuso. Achava que não queria o casual, genérico e apressado mesmo estando em um aplicativo que prioriza e estimula exatamente tais coisas.
Resolveu então mudar a descrição do perfil na tentativa de filtrar melhor seus candidatos. Estava cansada dos caras que mal conversavam e já pediam o Whatsapp para marcar encontros, já que não queria mais nada casual, ou queria, mas achava que não queria. Talvez quisesse. Era algo confuso. Achava que não queria o casual, genérico e apressado mesmo estando em um aplicativo que prioriza e estimula exatamente tais coisas.
Mudou o texto do perfil e deixou claro que não queria pegação nem sexo casual, muito menos homem casado. Estava ali para conhecer pessoas novas e conversar (ela sabia que isso era só um disfarce, mas acreditava que esse tipo de texto surtiria algum efeito em quem lia). Depois disso, até que apareceram alguns bons samaritanos e a conversa rendia um pouco, até o momento em que conseguiam sexo e se transformavam em pessoas frias.
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Resolveu então dobrar a meta. Conseguir alguém bem melhor, mais bonito, mais inteligente, melhor de cama, e que quisesse algo sério, é claro. Sua vida era muito corrida e não tinha tempo para conversar com pessoas na rua, mas precisava de alguém de qualidade e que se enquadrasse no seu perfil. O Tinder tinha que encontrar essa pessoa e esfregar na cara dela!
140 km, idade até 70 anos. Não havia mais limites.
O tempo passou, ela ficou, se enrolou, namorou, casou, separou, mas sempre voltou ao aplicativo cardápio, mesmo quando já parecia ter o que queria. Sempre sentia que precisava encontrar algo melhor ao primeiro sinal de tédio. A oferta era grande e promissora, e muito embora soubesse que escolher alguém para se relacionar não era tarefa fácil, insistia na frase: “Não estou aqui para curtição, se você está, aperte o X e tchau”. Às vezes, quando a razão aparecia, ela mesmo se perguntava: "se me proponho a escolher pessoas para me relacionar como escolho uma fruta em uma prateleira, ou uma roupa no cabide, como posso esperar que não queiram fazer o mesmo comigo, e depois irem experimentar outros sabores, ou outras roupas?".
Acabou percebendo que na realidade a sua meta era simplesmente ter um relacionamento fácil, perfeito, que curasse as suas carências e a tirasse da solidão. Não importava a meta que estabelecesse, sempre estaria insatisfeita, pois se acostumou a excluir pessoas passando o dedo para a esquerda, e aprovar outras passando para a direita, com base nas mentiras que elas contam.
As redes sociais criam a ilusão de que podemos sempre encontrar algo melhor para tapar buracos, o que nem sempre é verdade. Ao primeiro sinal de discórdia, ao primeiro sinal de que não será exatamente do jeito que queremos, sentimos a inevitável vontade de não nos esforçarmos mais para que dê certo. Mas vai que o próximo...
Abraço e até a próxima.
P.S.: Leiam meus outros textos e me adicionem nas redes sociais.
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