Rômulo Augusto é um cara trabalhador. Daquele tipo que só finaliza o expediente depois que terminar toda a tarefa programada para o dia de trabalho. E faz isso com seriedade, enfrenta até as constantes piadinhas dos colegas sobre um tal de Ricardão, amigo da sua esposa. Não é isso o mais notável em Rômulo Augusto. O que todos admiram é a capacidade que ele tem de sempre saber resolver as coisas. Ele tem solução para tudo, e constantemente nega precisar da ajuda de alguém.
Outro dia, chegando a sua casa após uma tarde cansativa de trabalho, depara-se com sua esposa na cozinha, pensativa e angustiada. Incomodado com o que vê, Rômulo Augusto pergunta a esposa o que aconteceu, e ela responde:
_Estou preocupada com o nosso filho. – Comenta a esposa.
_O que há de errado com o Caio Otávio, minha querida? Andou tirando notas baixas na escola?
_Antes fosse isso, meu bem. Sinto ser algo muito mais sério.
Rômulo Augusto já bastante preocupado, e vendo que sua esposa tão cedo se apressaria em contar de vez o que havia de errado com seu filho, tenta sutilmente acelerar a conversa utilizando o elevado conhecimento em psicologia feminina que herdara do pai:
_Desembucha mulher! Conta logo o que aconteceu que eu tenho mais o que fazer!
De imediato e falando baixinho para que o filho deitado no sofá da sala não ouvisse a conversa, a esposa explica que o menino chegou da escola muito estranho. Não respondeu nenhuma das perguntas que ela fez sobre a aula, não quis jogar videogame, negou até o convite do melhor amigo para jogar bola na frente de casa, como fazia sempre. Passou o dia todo deitado no sofá, e com uma carinha muito triste, disse ela.
_Mas não foi isso o que mais me preocupou, Rômulo Augusto. – Diz a esposa querendo criar suspense.
_Depois de muito perguntar o porquê dele estar daquele jeito, recebi uma resposta nada animadora. Ele disse que não sabia dizer ao certo o que era, mas que no fundo, sentia-se muito vazio por dentro, e ficou de cara fechada o dia todo. Não sei não, Rômulo Augusto. Acho que temos que levar o Caio Otávio a um psicólogo o mais rápido possível. Pode ser que seja um problema grave de depressão infantil.
Rômulo Augusto com cara de bravo protesta:
_Tá maluca mulher? Gastar dinheiro com essas bobagens quando podemos resolver isso aqui mesmo, em casa? Você acha que não posso ajudar nosso filho?
_Não é isso Rômulo Augusto, só acho que nem sempre você pode resolver as coisas do seu jeito.
Sentindo-se desafiado, o marido fica em silêncio por um instante, coça a cabeça vagarosamente com o mesmo dedo que a pouco servia de utensílio para aliviar uma leve coceira no nariz.
_Cadê aquele pacote de biscoitos de chocolate recheados que compramos ontem no Mercadinho do Bira?
_No armário de cima, terceira porta à direita. – Responde a esposa, curiosíssima.
Rômulo Augusto encontra o pacote de biscoitos e sem pestanejar grita ao filho:
_Caio Otáaaaavio? Sabe aquele pacote de biscoitos de chocolate recheados que eu comprei ontem?
_Sei sim, pai. – Responde meio surpreso e já se endireitando no sofá.
Quer ele todo pra você?
_Quero, pai! Claro que quero! – Responde o filho de pé, já em frente ao pai e com um sorrisão de orelha a orelha.
_Toma, é todo seu!
Ao entregar o pacote de biscoitos, Rômulo Augusto vê o filho sair pulando e gritando todo feliz:
_Eba! Eba! Eba!
A mãe do garoto conservando uma cara de espanto, com uma bocona aberta e os olhos arregalados, não consegue dizer uma só palavra diante de tudo que vê, mas Rômulo Augusto sim, ele sempre tem algo a acrescentar. Olha para esposa fazendo cara de quem resolveu o problema mais uma vez, dá um tapinha nas costas dela e diz:
_Se um dia você sentir um vazio dentro de você, coma que é fome.
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